Cavalgamos.
Desde as longínquas matas rasteiras das estepes até o Grande
Mar do Oeste que transborda nos limites do mundo, cavalgamos.
Atravessando montanhas, margeando o curso dos rios, pisando
em territórios e crânios dos que se antepõe à nossa marcha, cavalgamos.
Eis aqui, domando as intempéries do mundo, a nossa horda.
Adiante dela, o destemido guerreiro cujos feitos fascinam e fazem fascinar os poetas.
Na lâmina de sua espada converge o brutal desígnio de nós todos e os ânimos
ancestrais – degola, decepa e esfola! Se brada “avante”, direcionamos nosso
ímpeto no fim apontado em retumbante galope, impondo tremores a terras e
gentes. Enquanto persistir montando e satisfazendo nosso anseio por saque e violação,
sob seu comando cavalgamos.
Nossa cama é a cela; nosso piso, o estribo; nosso teto, o
céu, seja em seu radiar ou oculto sob o véu da deusa da noite. A trotada
incessante nos soa como a melodia do lar. Sobre o cavalo lutamos, mas também
repousamos, comemos e fornicamos. Cada vício, cada dor, cada afago se dá em
lombo equino, mesmo na embriaguez por vinho. Experimentando com toda a
intensidade o êxtase e o sofrer, cavalgamos.
Desprezam-nos nas cidades e vilas. Julgam nossas vestes de
pele, asquerosas; nossas barbas, desgrenhadas; nosso falar, sem eloquência;
nossos modos, tão rudes. Porém, rodeados por comodidades das quais se
envaidecem, seus corpos e almas não embrutecem. Sucumbem perante ínfimos
infortúnios. Sacrificam aos deuses pela elevadíssima cultura, quando deviam
blasfemá-los pela falta de vocação para a guerra. Por cima de sua douta
frouxidão, devastando seus frágeis abrigos de mármore, cavalgamos.
Escarramos na civilidade, na barbárie acreditamos! A razão
se esvai quando o pescoço encontra o fio da espada e a cabeça, o chão. Quiseram
os deuses que assim fosse e somos o que somos em honra aos planos sagrados. De
seu distante salão, o panteão nos testemunha; regozijam por nossas vitórias,
escarnam dos que derrotamos. Por desdenharem da divina hostilidade que a tudo
permeia, tombam eruditos em prejudicial orgulho. E nós, peregrinos em jornada
de fé, cavalgamos.
Aos que nascem, concedemos a liberdade dos temidos como
herança, exigindo para tanto apenas que prezem pela glória do nosso bando;
desejamos que sejam indiferentes ao fardo da finitude da vida; ainda púberes conscientizamos
da imortalidade compartilhada pela memorável grandeza da horda. Aos que morrem,
agradecemos ao sangue que verteram em tributo aos demais, festejamos pela digna
companhia que foram, clamamos aos deuses que os recebam celebrando seus feitos.
E nós que com a horda persistimos, até que nossos corpos suportem os golpes sem
que convalesçam, cavalgamos.
Cavalgamos.
2 comentários:
Bruno, desculpe o offtopic, mas não encontrei outra forma de contato.
Você é o cara que já foi conhecido como "JOE K.R."?
Se sim, estou contactando a turma do Ephyrea.
Abraços,
Alex (a.k.a, "Baden")
Sou sim, rapaz! Tudo bem? Vamos trocar uma ideia sim! Me add no insta: @bruno_uchoa
Postar um comentário