19 de agosto de 2013

Ao otimismo de julho de 2013



Nas ruas e nas praças 
Marcadas de sangue 
Imperava um silêncio fúnebre e negligente 
Tão incômodo aos meus ouvidos 

Saí, então, sozinho à rua 
E marchei e gritei 
Um grito convocatório 
De pronto atendido 
Por outras vozes tímidas 

A cada passo da marcha, 
Mais calados ouvem o clamor 
E muitos, envergonhados de sua mudez, 
Juntam-se à marcha-coral 
E gritam comigo em uníssono 

Logo chegará o momento 
Que seremos tantos em marcha 
Que nosso grito reverberará 
Por morros e pelo planalto 
Comprometendo estruturas palacianas 
E daí então 
Ninguém haverá como alguém dizer 
Que não fomos ouvidos

29 de janeiro de 2013

Águas de Santa Maria



Dos olhos, nasce um rio
que desce ao palco
e segue seu curso
pelas serras com antenas de TV
até desaguar no mar de telespectadores.

Rio que sacia a sádica sede
de dinheiro
de sangue


17 de janeiro de 2013

Mesóclise

Mesóclise era uma senhora solitária e melancólica. Por qual motivo? Porque ninguém gostava dela. Para agravar, normalmente sequer lembravam que ela existia. Quando era vista em algum lugar, as pessoas achavam que era um bicho estranho e antiquado.

Por vezes, queria ser como suas irmãs. A Ênclise, embora um pouco alternativa, ainda assim estava presente em vários círculos sociais. E a Próclise, quanta inveja tinha da sua popularidade! Mesóclise não conseguia entender como podia ser a mais rejeitada da estirpe das Colocações Pronominais, sendo sem dúvida alguma a mais elegante.

Nos últimos dias, pensa muito em cometer suicídio. E ainda se deprime mais em saber que, caso o faça, ninguém sentirá sua falta. Não haverá solenidades, nem lágrimas. O corpo ficará estirado para sempre no chão, apodrecendo sem que alguém ao menos se importasse com o fedor. Sumiria totalmente da face da Gramática e da memória dos homens.