3 de novembro de 2008

Memória

A pintura acima reproduzida é de autoria de René Magritte, pintor surrealista belga. Olhando-a, observo um lado bem iluminado, no qual me é óbvia a presença de uma escultura de cabeça feminina; e, num lado oposto, uma escuridão que devora o objeto retratado e que me impede de vê-lo por completo.
O nome da obra, Memória, me incita à reflexão, como quase tudo aquilo que Magritte produziu: afinal, o que é isto que chamamos de “memória”?
Segundo o meu Novo Dicionário Aurélio (que, de novo, não tem nada, diga-se de passagem), memória seria, dentre outras coisas: “a faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente”. Ou seja, se trata da capacidade de lembrar.
Contudo, sendo a recordação a finalidade da memória, ela se trai: não consegindo impedir que as imagens que carrega consigo sejam corroídas pelo fluir do tempo, faz delas resistir apenas parcelas cada vez menores. Processo que, aliás, tende a culminar no esquecimento total – a desaparição para o indivíduo de todos os resquícios da existência passada daquilo que aprendeu ou presenciou.
Era isto provavelmente que Magritte queria expressar em seu quadro. As trevas que tomam parte da escultura representariam o inerente olvido que ataca os vestígios abstratos do passado contidos na memória que teimam em persistir. Desse modo, só uma parte é possível ter acesso: aquela que ainda consegue ser iluminada pela lembrança.

4 de outubro de 2008

O graduando de História e o resto do mundo (I)

- Mas então, o que você faz? – Pergunta-me alguém que acaba de me conhecer e que não é historiador ou estudante de História.
- Faço faculdade de História – respondo.
Essa situação já se repetiu diversas vezes comigo e com reações que são quase sempre as mesmas. No geral, enquanto me olham com mal disfarçada surpresa ou pena, lançam a mesma frase:
- Mas você vai querer ser professor?
Alguns, talvez mais sinceros e menos educados, fazem outra pergunta:
- Por que você não faz Direito ou Engenharia?
Ou ainda:
- Mas você pretende fazer outro curso depois, né?
Há certo preconceito com os que, assim como eu, escolhem por cursos que formam professores. Corriqueiramente, somos julgados de loucos ou imaturos por escolhermos o caminho que supostamente leva a dificuldades financeiras e falta de prestígio profissional.
Umas almas caridosas, esforçando-se para iluminar com a razão a escuridão das perspectivas de nossas insanas e infantis mentes, tentam nos dissuadir de nossas escolhas. Como se fossem oráculos, nos prevêem um futuro sombrio e nos dão conselhos para evitá-lo – normalmente, nos apontam um caminho mágico e infalível para o sucesso, tal como abrir o próprio negócio ou ser funcionário público.
Este é, portanto, o primeiro desrespeito para conosco, graduandos de História, que aponto: o descrédito de sua capacidade de escolher o melhor caminho para o seu próprio futuro.
*****
Considerações finais: Esse é o primeiro texto de uma série em que pretendo refletir sobre o modo como as pessoas, de um modo geral, lidam com os graduandos de História. Além disso, ainda marca o retorno à ativa do Textando, após vários meses de abandono (eu não atualizava desde maio), sobretudo devido a uma falta de tempo e inspiração que aos poucos não mais me assolam! Então, podem comemorar, inexistentes leitores!

7 de maio de 2008

O ator e sua mentira

Sou artista, sou ator
Vivo para ser aquele que não sou
Num fingimento com o alívio
De, por fugazes e breves instantes
Poder afastar-me de mim mesmo
E também de minha dor

*****

Considerações finais: Originalmente, essa poesia era bem maior - algo em torno de 4 estrofes. Resolvi ser, ao menos, mais sintético, senão conseguia ser estético. Acho que estou aprendendo que, ao escrever em versos, é preferível se abster da prolixidade...

No mais, me empolguei com a temática e com sua abordagem no poema - que, inclusive, me inspiraram a escrever um conto que muito em breve, espero, sairá! Na próxima postagem, aliás, creio que virá algo em prosa, tudo dependendo apenas do meu tempo, disposição e, é lógico, inspiração.

28 de março de 2008

Histórias da Pista


Naquele domingo, o sol havia nascido por trás de densas nuvens das quais gotas despencavam furiosas. A pista de skate, localizada na praça principal do bairro de classe média e sempre lotada de adolescentes sedentos por manobras radicais, estava vazia devido ao mau tempo. Um grupo de sete meninos que freqüentava o lugar decidiu passar a tarde no shopping já que nenhum deles queria ficar em casa e não seria possível a habitual prática do skate.
Sentaram-se ao redor de uma das mesas da praça de alimentação e começaram a conversar. Sempre que eles faziam isso, o tema que dominava o diálogo era o skate, uma vez que era o que todos tinham em comum em seu cotidiano e o que os unia – afinal, muitos deles estudavam em escolas diferentes e moravam em ruas distantes, tendo contato somente através da pista do bairro.
- Vocês tão ligados no que aconteceu com o Lucas? – perguntou Guilherme em determinado momento da conversa.
- Qual deles, o Soares ou o Animal? – perguntou Felipe
- O Animal... – falou o Guilherme.
- Sei qual é.
- Ele tava andando numa calçada aí e, tipo, não viu um buraco, sabe qual é? E, tipo, a rodinha prendeu no buraco e ele caiu... Se fudeu muito, na moral! Bateu com a cara no chão e tudo!
- Pois é... Ele até quebrou os dois dentes da frente! Se fudeu muito mesmo... – disse Pedro que, dentre todos, era o mais próximo daquele garoto.
- Mas merda mesmo foi o que aconteceu comigo... – disse Guilherme.
- O que aconteceu, cara? – perguntou Diogo.
- Não ficou sabendo, cara?
- Não! Porra, fiquei quase um mês fora, na casa dos meus primos lá na Bahia, não se lembra?
- Ah, sim, mas achei que tu já tivesse sabendo... Sei lá, tá geral comentando!
- Tá, o que aconteceu afinal?
- O bichinha resolveu andar de patins! – interrompeu Arthur para provocar o amigo, como costumava fazer.
- Ah, vai tomar no cú, Arthur! Viado é você que cai de skate de propósito pra raspar a bunda no chão! Porra, eu só andei uma vez de patins, e foi por uma boa causa! – respondeu Guilherme, transparecendo agressividade no seu tom de voz e mudando a postura, parecendo que iria se levantar.
- Calma aí, relaxa cara! – falou Carlos, pousando a mão no ombro do Guilherme para mantê-lo no lugar.
- Pois é, cara, fica calmo aí! Não liga pro que o babaca do Arthur diz!– falou Diogo.
- Pode deixar, estou calmo. – respondeu Guilherme.
- Ok então... mas aí, explica essa parada de ter uma boa causa pra andar de patins! – disse Diogo.
- Tá bem – Guilherme concordou.
- Que isso, para! O Guilherme quando conta história é um porre! Ele vai contando tudo nos mínimos detalhes. É um verdadeiro saco! – comentou Pedro.
- Foda-se! Aliás, melhor assim, fico sabendo da fofoca por completo. Vai lá, pode começar, cara! – Diogo pediu.
O garoto, atendendo o desejo do amigo curioso, começou a narrar a história. Contou que havia alguns meses que ele estava freqüentando outra pista, que era melhor e onde tinha conhecido várias pessoas, mas que ficava do outro lado da cidade. Um dia, quando teve que ficar em casa estudando para as provas, resolveu dar uma saída rápida para comprar refrigerante no mercado. No caminho, encontrou André, um amigo que conheceu no seu antigo colégio e com quem costumava ir à pista de skate desde os nove anos, idade em que aprendeu as suas primeiras manobras.
Após algum tempo de conversa, Guilherme reparou que André estava diferente: tinha pintado o cabelo de vermelho e estava usando gel para arrepiá-lo. Ao comentar sobre a mudança no visual com o amigo, Guilherme ouviu uma resposta do tipo: “caraca, já to assim faz uns três meses! Ainda não tinha visto, cara?”.
Retornou para casa sentido certo desconforto. De súbito, percebeu que o fato de estar passando seus dias livres num lugar tão longe o estava afastando de seus amigos mais íntimos, que eram aqueles que freqüentavam a velha pista do bairro, gente que conhecia havia uns cinco, seis anos – no mínimo! Também se conscientizou de que estava deixando de conhecer muitas pessoas novas, pois quase todos os fins de semana apareciam jovens que iam ali pela primeira vez. Não conhecia sequer a namorada do seu irmão, que tinha quase a mesma idade que ele e que também se tornara freqüentadora. Daí veio a consciência, para ele desesperadora, de que, se continuasse assim, poderia perder amizades pela falta de proximidade física e de diálogo. Guilherme resolveu rever os velhos companheiros no sábado seguinte, o que considerou o primeiro passo de uma imposição a si mesmo de um hábito.
Assim que chegou, avistou uns colegas sentados em roda conversando e aproximou-se. Logo após cumprimentar a todos, dirigiu o olhar para a pista, da onde não conseguiu mais desviar: havia uma garota muito bonita, que aparentava ter mais ou menos a idade dele, descendo uma das rampas da pista em alta velocidade sobre um par de patins.
Quando chegou nesse momento da história, não pode evitar que a imagem de uma das manobras da menina, a primeira que ele assistiu, emergisse da memória. Na cena projetada pela sua mente, a jovem se aproximava de um pequeno obstáculo que os skatistas utilizavam para movimentos em corrimão, pulou nele cheia de graça e charme, com o longo rabo de cavalo negro saltando também no ar, como se acompanhasse seu corpo delgado de pele levemente queimada de sol na suave melodia que parecia soar dos seus gestos. Utilizou essa lembrança como recurso para poder compor uma descrição física aos seus colegas em que fosse exaltada a sua beleza.
- Pois é, sem noção Diogo, essa garota é muito linda mesmo! Cara, tem uns coxões que, ai meu Deus! – interrompeu Arthur, sendo ignorado por todos.
Guilherme, após os instantes de silêncio repentino que se seguiram ao comentário de Arthur, prosseguiu o relato. O garoto contou como, de súbito, esqueceu-se do mundo apenas para admirar a garota. Descreveu-lhes o seu imenso desejo de tê-la: visualizava com a imaginação ela nua e passando as mãos na sua pele, deslizando suavemente até a sua bermuda. Sentiu-se excitado como nunca; parecia que alguém lhe sussurrava ordens no ouvido que obedeceria sem contestar: “você tem que ficar com ela! Satisfaça-se, libere nela seus instintos primitivos!”
Perguntou para um dos garotos presentes, não recordava qual exatamente, quem era aquela garota maravilhosa andando de patins. Explicou-lhe que era uma menina nova no bairro chamada Joana, que estava sempre lá acompanhando as amigas. Um grupo que Guilherme já conhecia: umas garotas que de vez em quando iam para a pista andar de patins e que tinha nojo de skatistas. Relatou a sua frustração na hora que perdurou o resto do dia e a expressão de decepção estampada em sua face que pôde ver no espelho quando chegou em casa. Contou-lhes da indagação constante na sua mente: “como é que vou chegar numa mulher dessas? Como é que vou conseguir pegá-la?”. E como, de uma hora para outra, surgiu uma possível resposta: comprar um par de patins. Já dispunha do dinheiro: bastaria usar aquele que vinha economizando há meses para comprar um skate novo, pois o seu estava “todo fodido” fazia tempos. Depois de pensar um pouco a respeito, concluiu que talvez fosse a única forma de se aproximar da garota.
- Não acredito: você deixou de comprar um skate todo foda pra comprar aquele patins escroto! – exclamou Marcelo, que até então não tinha falado muita coisa.
Guilherme balançou a cabeça em sinal de positivo e retornou a contar a história. Adquiriu os patins e foi no domingo seguinte à pista para estreá-lo, torcendo para ser notado pela tal garota. Assim que a viu chegar, os calçou, aproximou-se da rampa e nela mergulhou, descendo em grande velocidade enquanto os demais garotos faziam piadas pelo fato dele estar com patins – brinquedo que, para aqueles jovens, era “coisa de mulher”.
- Cara, você é doido? Nunca tinha andado de patins e já vai chegando assim, descendo uma rampa à toda! – disse Diogo.
- Pois é, fiz merda... Achei que, como já sabia andar muito bem de skate ia mandar bem também no patins... Sei lá, achei que talvez fosse parecido! Mas, tipo, só na hora que eu comecei a descer a rampa que vi que não tinha nada a ver, só que não tinha mais como voltar atrás, tá ligado? – explicou Guilherme.
- Ai, que vacilo! – exclamou Felipe olhando para Guilherme como se o reprovasse.
- Tá, que seja! Diz aí: o que aconteceu depois de descer a rampa? – perguntou Diogo.
Guilherme levantou o braço esquerdo, mostrando para o amigo o braço envolto por um gesso cheio de assinaturas.
- Cai feio. Foi assim que eu quebrei o osso – respondeu, apontando para o membro fraturado.
- Conclusão dessa porra toda: perdeu o dinheiro do skate, quebrou o braço, ficou com fama de bichinha e ainda não pegou a mulé! – disse Arthur.
- È sério que você não pegou a garota, cara? – perguntou Diogo.
- É mesmo, você ainda não me contou o que aconteceu durante essa semana, cara... Chegou nela, cara? – Felipe quis saber.
- É, conta pra eles o que você me disse no MSN que aconteceu, cara! – pediu Arthur, com um sorriso debochado na face.
Guilherme explicou que resolveu entrar na comunidade da pista do bairro no Orkut para ver se encontrava o perfil dela por lá. Achou-o, mas, após o ler, ficou sem reação: a garota estava namorando. Depois de mais alguma investigação, descobriu que ela era a tal namorada do seu irmão. Leu e releu diversas vezes o depoimento romântico que ele havia deixado no perfil dela. A leitura lhe dava uma sensação de desconforto que, no entanto, não o impedia de analisar compulsivamente, além daquela declaração, também os scraps que o irmão deixara para ela e as fotos com os dois juntos.
Em certo momento, Guilherme ouviu barulho de passos atrás de si e constatou que era o seu irmão que estava entrando na sala naquele momento e que ia na direção do computador. Num rápido reflexo, virou-se e fechou a janela onde estava sendo exibido o perfil da Joana. Sentiu vergonha de que o irmão descobrisse que ele estava observando a sua namorada.
Quando Guilherme terminou a história, calou-se e reclinou-se para baixo; não queria cruzar o seu olhar com o de ninguém. Todos os presentes, inclusive o brincalhão Arthur, fizeram silêncio como numa espécie de demonstração espontânea de solidariedade e piedade para com o amigo desiludido ou como se compartilhassem os seus sentimentos de constrangimento e decepção. Foi Bernardo quem resolveu falar primeiro alguma coisa, numa tentativa de fugir da situação desconfortável:
- Mas, aí, cara, o que pretende fazer com os patins que você comprou? Vai deixá-los mofando no fundo do armário?
Então, Guilherme levantou o rosto, esboçou um sorriso sádico e falou com lentidão:
- Vou guardar eles até o dia vinte e quatro, pra dar pro Arthur de aniversário!

22 de fevereiro de 2008

E agora, Raúl?

O dia 19 de Fevereiro foi marcado por uma notícia bombástica: após quase cinco décadas no poder, Fidel Castro renunciou ao poder devido aos seus problemas de saúde. Raúl Castro, vice-presidente que vinha dirigindo o país desde julho de 2006, quando o revolucionário golpista afastou-se provisoriamente do poder, tornou-se definitivamente o presidente da ilha socialista. Há certo clima de incerteza quanto ao futuro de Cuba, embora que as perspectivas tendam ao otimismo; é como se todos, dos cubanos de Havana aos de Miami, passando pelos presidentes europeus e pelos democratas e republicanos norte-americanos, olhassem no fundo dos olhos do irmão de Fidel e perguntassem: “e agora, Raúl?”
Ao que tudo indica, a estratégia de Raúl é de tentar reconciliação com os Estados Unidos, país de quem Cuba sofre embargo econômico desde os distantes tempos de auge da Guerra Fria. Também parece estar tentando construir uma imagem de líder mais moderado que Fidel, talvez como parte integrante da sua estratégia de aproximação com os norte-americanos.
Certa vez, numa visita de Lula à Cuba, ainda em 2006, Raúl pediu que o presidente brasileiro fosse mediador do diálogo entre Cuba, Venezuela e EUA. E porque o líder de um regime fundado sob os alicerces do comunismo priorizou o diálogo com o Brasil ao invés da Venezuela chavista, com a qual desde Fidel possui relações mais estreitas e maior afinidade ideológica? Sugiro a análise de Kennedy Alencar como resposta: “Logo, [o Brasil] poderá ser mais útil do que Chávez, líder em conflito com os Estados Unidos e com a Colômbia. (...) [Raul] vê em Lula uma forma de se descolar um pouco de Chávez sem melindrar o venezuelano. Afinal, são antigos e fortes os laços de amizade de Lula e do PT com Fidel e Cuba”.
É isso o que deseja, Raúl? Tornar-se um bom vizinho, a imagem e semelhança da opinião pública externa sobre o Brasil? Tudo isso, para quê? Ajudar na reorganização nacional cubana, aumentar o investimento estrangeiro no país sem perder aliados estáveis, suspeito. Por que, Rauzito? Deseja mudar o rumo da revolução em marcha (ou que está parada) desde 1959?
Carlos Drummond de Andrade, em seu poema E agora, José?, nos conta a história de um homem que de repente fica só e sem nada a que se apoiar. O poeta alfineta a súbita angústia existencial do personagem repetindo a mesma pergunta: “e agora, José?”, como que falando: “diz aí, o que você vai fazer então?”.
Raúl, de repente, passa a liderar sozinho uma Cuba, que aparenta ter parado no tempo, que pretende modernizar e necessita conquistar algum auxilio externo para sustentar esse projeto. Sem o irmão e sem o apoio de nações estrangeiras fortes, Raúl se encontra na mesma situação do José da poesia de Carlos Drummond de Andrade.
A expectativa global é de uma transição política e econômica em Cuba, inclusive sendo expresso como desejo por diversas autoridades políticas. Porém, o quem sabe o que virá? Haverá democratização? Moderação do regime? Ou será tudo apenas ilusão e a ditadura permanecerá igual, senão pior?
Diz aí, Raúl, o que você vai fazer então?
E agora, Raúl?
*****
Considerações Finais: Antes de mais nada, gostaria de divulgar o endereço do artigo do Kennedy Alencar que citei no meu texto: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2002200812.htm . Infelizmente, só assinantes da UOL podem lê-lo.
Quanto ao artigo, bem, procurei experimentar um jeito um pouco mais criativo e informal de escrever dissertações. Espero que tenham gostado do resultado.

12 de fevereiro de 2008

Acorde!



Perante o corpo estático
de face pálida, lábios roxos
esboçando um sutil sorriso
e pálpebras repousadas -
como se, vivo, dormisse
e, dormindo, sonhasse
e, no sonho, se deliciasse
- Paraliso-me perturbado

Ah, revoltante paz!
Da tumba que agora jaz
desejo mandar-te levantar
ordenar aos berros que acorde

Mas nada faço
apenas, parado,
fito com olhar perdido
o tranqüilo finado

*****

Comentário Final: Os leitores de mais longa data já devem estar estranhando a quantidade de poesias que venho postando ultimamente e, quem sabe?, até sentindo saudades das minhas crônicas e contos - isto é, se sentem algum tipo de saudade do que coloco aqui no Textando. Esclarecendo a inusitada situação: embora ainda tenha inspiração para a prosa, não tenho conseguido inspiração para terminar as que começo; por outro lado, a inspiração para os versos, apesar de não ser tão intensa e frequente quanto é para contos e crônicas, ainda assim é suficientemente animadora para me fazer conseguir terminá-la. Afinal, é menos demorado um poema do que um texto em prosa, não?

Bem, sobre a poesia acima em específico, não gostaria de falar muito sobre ela. Só basta ao leitor saber que se trata de uma memória um pouco envelhecida, coisa de um ano e pouco mais ou menos, mas ainda muito forte na minha mente. Já escrevi sobre a experiência na crônica O Cadáver no Caixão. Espero que gostem dela.