3 de novembro de 2008

Memória

A pintura acima reproduzida é de autoria de René Magritte, pintor surrealista belga. Olhando-a, observo um lado bem iluminado, no qual me é óbvia a presença de uma escultura de cabeça feminina; e, num lado oposto, uma escuridão que devora o objeto retratado e que me impede de vê-lo por completo.
O nome da obra, Memória, me incita à reflexão, como quase tudo aquilo que Magritte produziu: afinal, o que é isto que chamamos de “memória”?
Segundo o meu Novo Dicionário Aurélio (que, de novo, não tem nada, diga-se de passagem), memória seria, dentre outras coisas: “a faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente”. Ou seja, se trata da capacidade de lembrar.
Contudo, sendo a recordação a finalidade da memória, ela se trai: não consegindo impedir que as imagens que carrega consigo sejam corroídas pelo fluir do tempo, faz delas resistir apenas parcelas cada vez menores. Processo que, aliás, tende a culminar no esquecimento total – a desaparição para o indivíduo de todos os resquícios da existência passada daquilo que aprendeu ou presenciou.
Era isto provavelmente que Magritte queria expressar em seu quadro. As trevas que tomam parte da escultura representariam o inerente olvido que ataca os vestígios abstratos do passado contidos na memória que teimam em persistir. Desse modo, só uma parte é possível ter acesso: aquela que ainda consegue ser iluminada pela lembrança.